O que eu diria a quem está começando uma Graduação em TI
Wed May 14 2025 23:57:00 GMT+0000 (Coordinated Universal Time)
1. Rankings importam menos do que você pensa
Se você está pesquisando qual faculdade escolher para cursar Tecnologia da Informação, é provável que já tenha se deparado com termos como ENADE, IGC ou rankings de melhores instituições. Mas antes de se guiar por esses números, vale entender o que, de fato, eles medem. Esses indicadores analisam critérios genéricos que muitas vezes não refletem o que mais vai impactar sua experiência. A metodologia de ensino, a grade curricular, o perfil dos professores e a cultura acadêmica são aspectos muito mais importantes para sua formação do que a posição em um ranking nacional.
No meu caso, estudei Análise e Desenvolvimento de Sistemas no IFRS. Apesar de não ter disciplina formal de C — uma linguagem valorizada nas avaliações oficiais — tive uma formação prática e aprofundada em linguagens como Java, Python e PHP, além de vivências com metodologias ágeis e projetos reais. Uma excelente forma de experimentar a instituição antes de ingressar definitivamente é se inscrevendo como aluno especial. Esse é um status que permite cursar uma ou mais disciplinas isoladas, mesmo sem estar matriculado no curso completo. É uma oportunidade para vivenciar aulas, conhecer professores, testar o ambiente acadêmico e confirmar se aquele curso ou instituição faz sentido para você. Para isso, verifique no site da instituição os editais para “aluno especial” ou “disciplina isolada”, que costumam abrir em períodos específicos do semestre.
2. Graduação não é corrida — é construção
Existe uma ansiedade comum entre estudantes de TI: a pressa em terminar o curso o quanto antes. A lógica parece simples — quanto antes o diploma, mais rápido você chega ao mercado. Mas essa visão ignora o que realmente transforma sua formação. As experiências mais ricas da graduação muitas vezes estão fora da sala de aula formal: participar de projetos de extensão, por exemplo, pode te colocar para desenvolver soluções reais com impacto social — e ainda te ensinar, na prática, ferramentas como Git, Docker, frameworks modernos e metodologias ágeis que muitas vezes não são exploradas nos conteúdos obrigatórios.
Já as bolsas de pesquisa científica são portas de entrada para aprofundar conhecimentos em áreas de nicho como Inteligência Artificial, Computação Quântica ou Cibersegurança, mesmo durante a graduação. Além disso, há eventos técnicos, grupos de estudo, mentorias e centros de inovação onde você pode construir portfólio, desenvolver soft skills e, de quebra, conhecer gente brilhante com interesses semelhantes. Quem acelera demais tende a não ter tempo ou energia para aproveitar essas oportunidades. Aprender não é só cumprir disciplinas — é explorar essas trilhas paralelas que tornam a universidade verdadeiramente transformadora.
3. A faculdade não vai te ensinar tudo — e isso é libertador
Muitos alunos sentem frustração ao descobrir que sua graduação em TI não ensina todas as linguagens, frameworks ou ferramentas em alta no mercado. E isso é absolutamente natural. Nenhum curso consegue acompanhar em tempo real todas as tendências do setor. A universidade não é um bootcamp, e nem deve ser. O papel dela é te dar o alicerce: desenvolver pensamento lógico, estruturar sua base em algoritmos, paradigmas, engenharia de software e metodologias de pesquisa. Mas talvez o aspecto mais importante seja outro: te ajudar a entender como aprender. Aprender de verdade exige método, curiosidade e criticidade. A universidade te dá esse ambiente — mas o protagonista é você.
Alan Kay expressa isso com clareza ao afirmar: “Tornar-se educado é, em essência, um processo autodidata. A maioria dos autodidatas mais instruídos que conheço usou a universidade como parte do processo.” Essa citação está disponível em sua resposta no Quora, que pode ser acessada neste link direto. O ponto é: a universidade é poderosa porque te oferece contexto, acesso, apoio e direção. Mas o que você faz com isso — o quanto lê por conta, o quanto experimenta, o quanto mergulha — define até onde você vai.
4. TI é sobre tecnologia — mas também sobre pessoas
Ainda é comum imaginar que o profissional de TI precisa apenas dominar código e lógica. Mas a experiência universitária mostra que o aspecto humano da tecnologia é igualmente essencial. Ao longo da graduação, você vai dividir a jornada com pessoas muito diferentes de você: alguns serão iniciantes, outros já estarão atuando há anos na área. Essa diversidade é uma escola à parte. A troca com colegas mais experientes te dá perspectiva. Ajudar quem está começando fortalece sua base. E aprender a colaborar, ouvir, explicar ideias e resolver conflitos é o que vai te preparar para ambientes de trabalho reais.
As soft skills — como empatia, comunicação clara e liderança — não são “extras”: são habilidades técnicas aplicadas ao convívio. Trabalhos em grupo, apresentações e projetos colaborativos não são apenas acadêmicos — são seu ensaio para o mercado. A capacidade de construir pontes com pessoas é o que torna sua técnica realmente relevante. TI, no fundo, é feita por gente, para gente — e isso se aprende com gente.
5. Expanda sua rede — faça amigos e conheça outras áreas
Por fim, o conselho mais simples e mais poderoso: faça amigos. A graduação é um momento de transição e crescimento intenso, e ter vínculos reais com colegas torna tudo mais leve e significativo. Mas esse conselho vai além do afeto: conheça pessoas de outros cursos. Frequentar centros de convivência, eventos interdisciplinares, cafés universitários, reuniões de grupos mistos e projetos colaborativos é uma forma inteligente de ampliar repertório.
Conversar com estudantes de Psicologia, Design, Engenharia ou Administração expande sua forma de pensar, melhora sua criatividade, oferece novas ferramentas e revela pontos cegos que você não veria sozinho. Além disso, o mercado valoriza cada vez mais profissionais com repertório interdisciplinar e capacidade de comunicação entre áreas. A graduação não é só sobre TI. É sobre pessoas, trocas, curiosidades inesperadas e relações que muitas vezes mudam o rumo da sua carreira.